segunda-feira, 6 de agosto de 2012

nunca tinha se imaginado dando socos em espelhos. duvidando do azar. o convidando para um duelo, onde dedos apontariam a cara uma da outra. os mesmos dedos que já foram capazes de escrever palavras tão bonitas. palavras que não eram capazes de caber em palavras e de seguir em linha reta. dedos que explodiam de carinho. os mesmos que eram chupados e enfiados no cu. os mesmos dedos que apertavam gatilhos. dedos  que um dia iriam cair.  alguns cairiam em pratos de sopa e seriam servidos e devorados com imenso prazer. tinham muita fome. sabiam que o amor não alimenta. era considerada uma analfabeta, com problemas de visão.  já havia tentado algumas vezes em cursos de inverno, mas parece que não era mesmo a sua praia. ficava muda e sorrindo por dentro. passava tardes inteiras fazendo isso. olha só a cara delxs!  tinha a impressão que conhecia todas as palavras do mundo, mas não era capaz de escrever nenhuma. não com letras, linhas, símbolos, e códigos. perdia quase que diariamente a linha da palavra, e se perdia vez ou outra nesses labirintos de acesso. o mesmo caminho que as levariam a libertação. ia brincar com os gatos, ou outros animais selvagens que poderiam aparecer pelo caminho. passava noites fazendo isso. acariciando com os dedos os pescoços dos gatos, que se contorciam de prazer. aqueles dedos que seriam borrados com tinta e pressionados contra um pedaço de papel, que tentaria dizer quem somos e como devemos agir. os mesmos dedos que são enfiados na garganta para forçar um vômito de verdades. o vômito que é lambido e comido pelos gatos, e que pela manhã já não existe mais. as gatas dormem satisfeitas.

terça-feira, 1 de maio de 2012

terça-feira, 10 de abril de 2012

aprendemos a sentir e desenvolver afetos sob a referência do 'amor'. como se fossem as únicas lentes de que dispomos para ver o mundo, para sentir, para estabelecer vínculos, para viver em sociedade. todxs monolingües, falando a linguagem universal do amor. no entanto existem mais línguas, e a política se escreve desde o intraduzível, desde o incomunicável, desde códigos secretos que 'precisamos' inventar. babel contra o amor! o que insistimos em entender e comprar como 'amor', nos torna codificáveis, compreensíveis, integráveis, consumidorxs, normais. a subversão passar por outro lugar: que não saibam qual idioma falamos.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

a moeda da sorte foi roubada
o horóscopo foi rasgado
a religião, extinta
estamos sem destino, meu amor
sem mapas, sem marcas, sem vergonhas, sem tempo.
aqui a beleza faz cuspir sangue
- juro que vou pensar sobre isso. riram
estava na cara
enrolando o tapete vermelho sem levantar os pés
queimando bandeiras
tentando achar a rua certa
o que mais poderia querer dizer com aquilo?
cegxs!
mas aqui tudo é pensado em blocos
e cegxs não são bem-vindxs
de tão acessível, foi feitx pra ninguém
dizem até que não existe lugar pra chorar

vamos por partes
aqui a terra ronca de garganta fechada
- e claro que entendo quando fala sobre enlouquecer em paz
em um dia tranquilo, posso te ouvir gritar
em um dia tranquilo, não reconheço sua voz
mas não me venha com eletrochoques, ilustre desconhecidx
se houvesse magia nisso, não seria preciso um manual de ação direta
o mar morto teria cor-de-sangue
não sangue azul
um hemograma quase completo
o importante agora é que o importante não existe
e nossa memória foi feita pra acabar
amanhã já não lembraremos de mais nada, juro
marcharemos juntxs para a jornada de oito horas
de mãos dadas
antes delas serem cortadas
pagaremos nossos pecados convertidos em corpos
assinaremos um contrato em um banquete para homens e mulheres
onde brindaremos cicuta com sua ridícula filosofia e sua lógica capenga.
falta ar no topo dos meus pulmões!
não, eu não vou pegar nas suas mãos
e casar de branco segurando o seu pau
simplesmente discordo dos seus planos
um pacto de sêmen!
sagrada experiência espiritual sem espírito
eu que um dia sonhei incendiar todas as cartas
embaralhei

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

sorrisos amarelos de eutanásia
corpos armados de carinho
explodem pelos olhos
há espaços sem passos
filmes queimados
enquanto invoco o fim do mundo
em diferentes tons de sons

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012


...
como te afogar nas chuvas de verão
nadar e morrer na praia talvez não seja uma má idéia
respiração boca a boca vai contra todos os nossos princípios
somos como um prédio abandonado, pronto e esperando para ser ocupado

...
sabiam que estavam mais que apenas respirando
e que no olho de um furacão sempre falta ar.
tem algo de errado nisso!
sabíamos que lá fora não era seguro, mas é claro que é lá que devemos estar
sabiam e sabíamos
tinha o mistério e a beleza de um hacker
e com o ilícito, uma certa familiaridade
enquanto viam o livre arbítrio ser domesticado, percebia(m) que o último trago da noite de ontem tinha um gosto diferente.
na verdade não sabiam bem se era noite, ou quantas noites haviam passado.
como se fossemos um acidente esperando um lugar para acontecer
não sabiam o que era [a] verdade
as palavras eram ditas sem reticências, sem disfarce
as mãos às vezes se tocavam
longe do sagrado quarto dos pais
gozavam, gozavam, e gozavam dos planejados desencontros.
desgastadxs.
como não se perder no nosso mundo sem mapas?
não me conte
números foram feitos para errar
e a decência das palavras limpa nossa boca suja
fazendo reinar a norma
que houve com sua voz?
na mira de um cometa sem direção, era capaz de me sentir um herói de circo mexicano. 

surtando em silêncio, a noite amanheceu, e pela primeira vez foi capaz de existir uma pintura sem cor
os pincéis haviam sido roubados
e o sangue, virado tinta fresca
o amor confiscado ainda dita a lei
nos reduzimos ao silêncio do discurso sem vergonha
nossos corações foram esquecidos dentro da boca de um sapo
onde ainda batem
fora do rítmo e sem frequência correta

domingo, 18 de dezembro de 2011

domingo, 9 de outubro de 2011

o exemplo já não vale como referência
o centro muito menos
o amanhã não existe
sem heróis, reis, deuses e calendários
sem elos por hoje
sem eles amanhã
o amanhã já não existe
a metade da laranja foi comida
não poderia deixa-lx morrer de fome
o amor não alimenta
não sentimos a mesma fome
não falamos a mesma língua
não vemos
palavras vagas como insustentáveis vigas

não quero o ouro nem os diamantes de suas bodas
e enquanto criavam laços, feitos de nós cegos
pensavam o quanto era ruim uma vida medicada
chegavam a dizer que a saúde é uma criação
e que esses sentimentos eram doenças
de tanta dor na cabeça, acabaram sem elas
passariam agora a viver como zombies
não mais dormiam
e sem cabeça, não sonhavam
os nós cegos enxergavam sem foco
nada mais era claro
à beira do caos
descobriram uma forma de sorrir
e por mais que não conseguissem se olhar
tudo o que queriam era ver o sorriso um/a dx outrx

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Todxs nós tivemos nossos 'dias mais tristes' em algum ponto, e este foi o meu. 
Às vezes a frustração inerente em tentar realizar nossos desejos em uma sociedade que faz de tudo para esmagá-lxs ou virá-lxs de ponta cabeça se torna esmagador demais. Às vezes a necessidade de se sacrificar espontaneidade por forma se torna frustrante demais. Às vezes sobrevivência se torna um obstáculo para a vida. Às vezes nos lembramos como a maldita instituição familiar ainda se manifesta tão fortemente. Às vezes sentimos vontade de simplesmente dar um tiro na cabeça, mas sabemos que não teremos coragem. Às vezes nos cansamos de pessoas tentando nos convencer do contrário. Algumas idéias são venenosas, alguns sentimentos matam mais do que balas. Mas eu não deixarei eles sentirem este gosto na boca... e se eu preciso cair, levarei todos eles comigo. Já que nossas vidas foram roubadas, o que vamos fazer sobre isso? Sentar e chorar? Acho que não. Se preparem, malditos.