segunda-feira, 6 de agosto de 2012

nunca tinha se imaginado dando socos em espelhos. duvidando do azar. o convidando para um duelo, onde dedos apontariam a cara uma da outra. os mesmos dedos que já foram capazes de escrever palavras tão bonitas. palavras que não eram capazes de caber em palavras e de seguir em linha reta. dedos que explodiam de carinho. os mesmos que eram chupados e enfiados no cu. os mesmos dedos que apertavam gatilhos. dedos  que um dia iriam cair.  alguns cairiam em pratos de sopa e seriam servidos e devorados com imenso prazer. tinham muita fome. sabiam que o amor não alimenta. era considerada uma analfabeta, com problemas de visão.  já havia tentado algumas vezes em cursos de inverno, mas parece que não era mesmo a sua praia. ficava muda e sorrindo por dentro. passava tardes inteiras fazendo isso. olha só a cara delxs!  tinha a impressão que conhecia todas as palavras do mundo, mas não era capaz de escrever nenhuma. não com letras, linhas, símbolos, e códigos. perdia quase que diariamente a linha da palavra, e se perdia vez ou outra nesses labirintos de acesso. o mesmo caminho que as levariam a libertação. ia brincar com os gatos, ou outros animais selvagens que poderiam aparecer pelo caminho. passava noites fazendo isso. acariciando com os dedos os pescoços dos gatos, que se contorciam de prazer. aqueles dedos que seriam borrados com tinta e pressionados contra um pedaço de papel, que tentaria dizer quem somos e como devemos agir. os mesmos dedos que são enfiados na garganta para forçar um vômito de verdades. o vômito que é lambido e comido pelos gatos, e que pela manhã já não existe mais. as gatas dormem satisfeitas.

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